Era noite. O Sol já havia sido substituído pela escuridão da noite. Jorge, um rapaz de seus 25 anos, barba feita, cabelo baixo, alto e esguio estava caminhando pelo interior da rodoviária da pequena Ieginópolis, falando ao celular, com uma mochila presa em seu ombro direito e usando terno e gravata.
- Não, mãe, já falei. Vou chegar aí por volta das 4, 5 horas. – uma pequena pausa – Sim. A audiência acabou só agora a noite. Não tenho culpa. – outra pequena pausa – Não, mãe, o ônibus tem ar-condicionado. – terceira pausa – Tem uma pausa em Bom Jesus do Despacho. Mas o ônibus tem banheiro e estou levando bastante lanche. Até lá tem só Almeida Resende e Virago, depois é umas 2, 3 horas direto só de mato, até Bom Jesus. Depois de Bom Jesus tem mais cidades até a capital. – quarta pausa – Sim, sim. Por causa da floresta. Por isso não tem cidades entre Virago e Bom Jesus. – o rapaz chega ao lado de um ônibus intermunicipal de dois andares, onde se encontravam duas pessoas igualmente uniformizadas. – Cheguei no ônibus, mãe. Vou desligar. Beijos. Quando chegar na capital, te dou um toque. Boa noite. Beijos.
Jorge desencostou o celular do ouvido, desligou a chamada e o colocou no bolso frontal direito. Após, retirou do interior do paletó uma passagem e o encontrou ao mais baixo dos uniformizados, que a recebeu, conferiu, rasgou ao meio e o devolveu. Por fim, o rapaz adentrou no interior do ônibus, que se encontrava parcialmente vazio, procurou sua poltrona e assentou no banco mais próximo da janela. Na outra, deixou seu paletó e a mochila. Por fim, retirou a gravata, desabatoou os dois primeiros botões e a guardou dentro da mochila, junto do paletó.
- Finalmente... livre. – disse, para si mesmo. Colocou o cinto e se acomodou no local.
Dois ou três minutos depois, os dois uniformizados adentraram no interior do ônibus. Um deles foi para o volante, enquanto o outro ficou ao seu lado, de pé.
- Está vazio hoje. – disse o de pé. De fato, tinham apenas 9 passageiros, considerando Jorge. Alguns segundos depois, o ônibus partiu do interior da rodoviária.
A viagem era demorada. Era pouco mais de 9 horas da noite e Jorge só chegaria à capital por volta de 4 ou 5 horas da manhã. Conforme os dizeres do rapaz com sua mãe, primeiramente a estrada cortaria várias cidades vizinhas à cidade de Jorge, até chegar em Virago, onde atravessaria uma densa floresta que divide a cidade de Bom Jesus do Despacho, distante 2 horas e meia de carro de Virago. Lá é perto da Região Metropolitana da capital, sendo que a cidade mais próxima da região metropolitana ficava a 25 minutos de Bom Jesus.
Sabendo da distância e da demora da viagem, Jorge se arrumou no banco, tentando ficar o mais confortável possível. Após, ligou a luz individual interna do veículo e postou um livro entreaberto à sua frente, enquanto colocava fones de ouvido.
O ônibus já se encontrava saindo do interior da cidade, quando o cobrador adentrou no corredor solicitando as passagens dos nove passageiros. Jorge rapidamente percebeu que o ônibus se encontrava realmente bem vazio – à frente, sentados logo atrás do motorista, havia um casal de idosos; ao seu lado, em um dos bancos à direita, um homem de seus quarenta e poucos anos; mais para o meio do ônibus, outro casal, agora de jovens, um rapaz solitário, uma mulher de certa idade carregada de sacolas, que vira e mexe caíam por causa do sacolejo do ônibus, Jorge e uma bela morena de pernas estonteantes sentada na outra janela da mesma fileira de bancos que o rapaz.
Tão logo percebeu a existência da bela moça, Jorge ficou encantado. A moça tinha seus vinte e poucos anos, pele bronzeada pelo Sol, uma belíssima cor de chocolate e um belíssimo cabelo preto, que ultrapassava a omoplata da jovem. Jorge se pegou olhando para a moça durante longos segundos, até que a mesma percebeu e este desviou o olhar. Ele não reparou, mas ela deixou escapar um sorrisinho.
Neste instante, apareceu no corredor entre os bancos o cobrador, solicitando a Jorge – e depois a moça – a passagem. Após a entrega por parte de ambos, o cobrador desobstruiu o corredor, voltando à frente do veículo. Neste instante, Jorge percebeu que a moça se encontrava sentada no lado do corredor.
- Olá. – ela disse, com um belo sorriso no rosto. A atitude da garota surpreendeu Jorge, que não esperava. Seu coração disparou no peito.
- Oi. – disse, timidamente, embora não fosse.
- Está lendo que livro?
- "Asylum" – disse, mostrando a capa do referido livro à moça
- Não conheço. Parece de terror.
- É sim. É uma história de um rapaz que vai estudar em uma escola situada em um antigo sanatório desativado.
- Credo. Obrigada. Não gosto muito de histórias de terror. E você tem coragem de ler uma história dessas viajando a noite no meio da estrada? – disse a moça, rindo ao final
Jorge riu.
- Nessa hora, já pretendo estar no décimo sono.
A moça retribuiu o riso. Jorge mexeu no interior de sua mochila e retirou de lá um saco de papel dentro de uma sacola plástica. Abriu-a e ofereceu à moça.
- Aceita.
- O que é?
- Pão de queijo.
- Por que é que mineiro só oferece pão de queijo? – perguntou a garota, rindo, enquanto retirava do interior do saco um enorme pão de queijo
Jorge riu.
- E tem coisa mais gostosa que pão de queijo? Tá pra nascer. – disse o rapaz, descendo transparecer seu sotaque típico – E você é daonde?
- Niterói.
- Nossa, e o que está fazendo tão longe da sua terra?
- Estava visitando alguns parentes meus que mora aqui em São Carlos. Agora estou indo para a capital pegar o voo para o Rio de Janeiro.
- Entendi.
- E você? O que está fazendo todo engomadinho, de terno e gravata?
Ele riu. Olhou para si mesmo e percebeu sua roupa toda desengonçada.
- Estava em uma audiência aqui em São Carlos.
- Audiência?! – ela riu. – Não é muito novo para ser advogado, não?
Foi a vez de Jorge rir.
- Já me falaram isso. Mas não sou tão novo quanto pareço não.
Ela riu. O assunto, em seguida, encerrou-se por completo.
Passaram-se algumas horas. Era madrugada e todos já estavam dormindo, incluindo Jorge. As luzes do ônibus estavam apagadas e somente o motorista e o cobrador se encontravam acordados, conversando na cabine frontal do ônibus. O veículo estava em alta velocidade, haja vista estar em uma gigantesca reta e a estrada estava completamente vazia. Alguns segundos depois, o ônibus diminui a velocidade para entrar em uma aberta curva para a direita. Repentinamente, para surpresa da dupla de profissionais, eis que surgem duas capivaras na pista, bem na curva, atravessando o pasto em direção ao barranco à esquerda. O motorista, surpreso, freia o ônibus com toda força, acordando – e assustando – os passageiros e o vira, de inopino, à esquerda. Este acaba descendo o barranco, capotando ao bater em uma árvore.
Os passageiros começam a ficar assustados e a gritar. Jorge segurou sua mochila e a grudou consigo, no peito. Em seguida, colocou os pés sobre o banco e colocou a cabeça no meio de suas pernas. Percebeu, em seguida, que a moça fez o mesmo.
O ônibus continuou capotando durante alguns segundos, inclusive batendo nas beiradas contra duas árvores, até parar no final do barranco, deitado. O interior da mente de Jorge continuava chacoalhando e parecia que o mundo continuava rodando. Entretanto, sabia que não podia continuar por muito tempo no interior do veículo. Retirou o cinto e se levantou, sobre o que sobrou das janelas do lado direito. Pegou sua mochila e foi ajudar a moça a retirar o cinto, que estava preso. Após, ajudou-a a se levantar e caminharam pelo local. Alguns dos passageiros já se encontravam evadindo do local.
- Parece que foi um estrago feio. – disse a moça, sendo auxiliada por Jorge
- Verdade, moça. – respondeu Jorge, preocupado, olhando para onde pisava, já que visualizou marcas de sangue no chão
- Pode me chamar de Rebeca.
- Rebeca. Não vou esquecer.
- E qual o nome do rapaz que segura a minha mão?
Neste instante, Jorge percebeu o quão quente era a mão de Rebeca e enrubesceu.
- J...Jorge.
Rebeca ri.
- Vejo que o tal rapaz é um pouco tímido.
Foi a gota d´água para Jorge ficar vermelho igual um tomate, tamanha a vergonha. O que mais lhe estranhava era que não era tímido – era até bem extrovertido, e não tinha vergonha alguma com mulheres.
Jorge adentrou no interior da cabine frontal do ônibus, onde se sobressaltou. Ao perceber o sobressalto do rapaz, Rebeca perguntou:
- O que foi?
- Acho melhor não olhar pra cá. – disse, apontando com a cabeça para o lado do motorista. E assim o fez. Jorge auxiliou Rebeca a descer do interior do ônibus, sem que esta visse grandes galhos de árvore atravessando o vidro esquerdo do local e fincando no corpo imóvel do motorista em vários pontos de seu corpo.
Todavia, Jorge, de uma forma ou de outra, não evitou que Rebeca visse uma cena horrenda. Do lado de fora, quatro dos demais passageiros se encontravam em choque, rodeados do que sobrou dos corpos do casal de idosos – que se encontravam esmigalhados e espatifados barranco abaixo - e do cobrador – que aparentemente voou pelo vidro da janela e foi descendo barranco abaixo batendo nas árvores até quebrar boa parte do seu corpo. Provavelmente não estavam usando cinto de segurança, o que lhe fizeram ser arremessados para fora do veículo. O homem que se encontrava ao lado do casal de idosos não se encontrava no local, nem ele nem o seu corpo.
Tão logo viu a cena, Rebeca tampou os olhos, horrorizada. Jorge, em seguida, lhe amparou.
- E o que faremos daqui em diante? – perguntou o rapaz solitário.
Jorge olhou para cima. Percebeu que o barranco era demasiadamente alto. Em seguida, olhou ao seu redor. Estavam em um local com pouca mata na beirada de um gigantesco rio ao fundo.
- Acredito que esse deva ser o Rio Albuiú. Se seguirmos, devemos dar em Lafon ou Bom Jesus. – disse Jorge
- Acredita que é seguro? – perguntou o outro rapaz
Jorge deu de ombros.
- Parece que não temos outro jeito. Não sei onde estamos exatamente e já faz bastante tempo que saímos de Virago, então acredito que Bom Jesus esteja mais perto. Como é beirada de rio, acredito ser mais seguro que caminhando floresta adentro.
- Então... – disse o rapaz, se levantando – Vamos seguir o rapaz de terno.
- Jorge. Pode me chamar de Jorge. – disse o rapaz.
- Bernardo. – apresentou o rapaz.
- Rebeca.
- Maria Rita, mas podem me chamar de Rita. – disse a senhora das sacolas, que se encontrava com todas consigo
- Maique. – disse o jovem do casal
- Maísa.
- Maique e Maísa. É casal ou dupla sertaneja? – brincou Bernardo, fazendo os demais, com exceção do casal, rirem.
- Bom, então já que a chamada foi feita, vamos embora, que não quero virar banquete de tubarão.
- Ai, meu Deus. – disse Rita, amedrontada. – Tem tubarão na região?
Todos se viraram incrédulos para ela.
O grupo caminhava pelo interior da floresta que beirava o rio. Aos poucos, o rio foi se distanciando do barranco que delimitava a estrada, além de ir tomando as suas margens, obrigando o sexteto a adentrar no interior da floresta. Rita não gostou muito da situação, pois estava completamente amedrontada. Os demais queriam apenas chegar aos seus destinos o quanto antes.
Bernardo, Maique, Jorge e Rebeca utilizavam seus aparelhos celulares como lanternas, para iluminarem seus caminhos. Tentaram por diversas vezes ligarem para parentes, amigos, para a companhia de ônibus e, claro, para o serviço de emergência, mas não estavam funcionando. Duas das quatro operadoras se encontravam inoperantes desde o cair da tarde, e as duas demais não haviam sinal na região, por causa da estrada.
- Será que não é perigoso adentrarmos floresta adentro? – perguntou Maique, visivelmente amedrontado. Maisa, sua namorada, se encontrava na mesma situação
- É sim, mas é só não distanciarmos o bastante do rio. – disse Jorge.
- Verdade. – disse Bernardo – Vamos prestando atenção no barulho do rio.
- Não era melhor termos ficado no local do acidente, esperando o resgate? Com certeza, sentirão nossa falta em Bom Jesus e mandarão uma equipe de resgate para nos salvar. – perguntou Rita
- Não sabemos quanto tempo isso demorará. Você sabe como o serviço da companhia é precário. Já aconteceu de ficar mais de cinco, seis horas parados na estrada quando um ônibus quebrou, mesmo próximo de uma cidade, porque a garagem da companhia é só na capital. Tivemos que esperar o veículo da companhia chegar para nos buscarmos. – explicou Jorge. – Certamente ficaríamos lá até metade de amanhã sem qualquer resposta por parte da companhia. Até para chamar a Polícia, é devagar quase parando.
Rita engoliu em seco. Continuou caminhando com suas intermináveis sacolas, mesmo a contragosto.
O grupo continuou caminhando floresta adentro, sem grandes perigos - somente uma aranha que desceu no ombro de Maisa e seus gritos quase fizeram os demais enfartarem. Bernardo e Maique auxiliaram a garota a retirar a aranha de cima de si mesma e verificaram que a mesma não a picou.
- Mocinha. Você quase me mata do coração. – disse Rita, ofegante, com a mão no coração – Eu sou diabética e hipertensa. Não posso levar esse tipo de susto.
- O mais surpreendente é saber que ela fala... achei que ela fosse muda... – cochichou Jorge, consigo mesmo, ainda recuperando do susto. Rebeca estava ao seu lado, ouviu e riu timidamente, sem chamar a atenção dos demais.
O sexteto continuou sua caminhada. Após alguns minutos, avistaram uma pequena cabana próxima ao rio e fora da floresta.
- Olha, que bom. Uma cabana para nós descansarmos. – disse Rita, efusiva
- Calma. Não sabemos se há algum morador. – disse Bernardo, mais cauteloso
O sexteto caminhou cautelosamente em direção à pequena cabana. Ao chegar defronte à cabana, Jorge e Rebeca olharam ao redor, enquanto Bernardo e Maique ficaram na porta. Bateram no local e chamaram por algum morador. Ninguém respondeu.
Bernardo girou a maçaneta da porta principal e a mesma abriu, revelando uma pequena residência com uma pequena sala mobiliada frontal. Havia sujeiras no local resultantes de lama no carpete e nos sofás, além de comida espalhada, mas não possuía teias de aranha ou poeira – embora o número de insetos voadores chegava a incomodar. Bernardo testa o interruptor do local, mas a luz da cabana não ligou. Em seguida, começou a adentrar pelo interior da cabana. Jorge lhe interceptou, perguntando:
- Tem certeza? Deve ter algum morador por aqui.
- Esperamos que não. – respondeu o outro
Bernardo e Jorge adentraram no interior da sala da pequena cabana, jogando os feixes de luz das lanternas de seus celulares em todos os cantos possíveis. Atrás deles, vieram os demais, cautelosos. À direita da sala, havia uma porta que dava a um pequeno e fedido banheiro. Já ao fundo, havia uma porta.
- Vocês têm certeza que realmente devíamos invadir a casa alheia? – perguntou Rita, com medo
- Pode ser que o morador nos auxilie a sair dessa floresta, nos dê alguma dica. Há produtos industrializados aqui dentro, então significa que ele vai a algum local adquiri-los. E neste local poderíamos pedir ajuda para chegar à capital. – explicou Jorge.
- Além do mais, se explicarmos nossa situação, não acredito que ele ficará com raiva de nós. – continuou Bernardo
Ao ultrapassarem a porta, o grupo visualizou um pequeno corredor à esquerda, que desembocava em uma porta fechada. À direita deste corredor, um par de porta.
- Que cheiro ruim é esse?! – perguntou Rebeca, enojada.
Jorge retira com a mão algumas moscas que estavam rodeando seu rosto.
- Realmente parece ter um cheiro ruim. E o número de moscas está cada vez maior.
Bernardo abriu a primeira porta. Sobressaltou e fechou, com toda força. O barulho ecoou pelo local. A ação do rapaz assustou os demais.
- O que aconteceu? – perguntou Jorge, percebendo o rosto de assustado de Bernardo
- Descobri a origem do cheiro forte. – disse o rapaz
- E do que se trata? – perguntou Jorge, virando-se para a porta. Tentou girar a maçaneta, mas percebeu que Bernardo ainda a segurava. Virou-se para ele: - Pode soltar.
- Tem certeza?
- Sim.
- OK. Não me responsabilizo. – disse, afastando-se da porta, dando lugar a Maique e Maisa.
Jorge abriu a porta. Um forte cheiro de decomposição adentrou no local. Todos rapidamente passaram mal. Maisa e Rita saíram correndo em direção à saída, com forte vontade de vomitar. Jorge percebeu, naquele instante, que havia um corpo sobre a cama, de bruços, em estado de decomposição. Estava de roupas e a luminosidade só permitia visualizar da virilha para baixo.
O rapaz rapidamente fechou a porta, cortando o cheiro.
- Eu te falei. – disse Bernardo
- Quem será ele? – perguntou Maique
- Provavelmente, o dono da cabana. Por isso que ela estava vazia. – disse Jorge
- E do que será que ele morreu? – perguntou Rebeca
- Não sei. Talvez infarte fulminante.
- Mas parece que a comida na sala é mais recente que o corpo. – disse Maique
Jorge ergueu a sobrancelha.
Apesar da advertência de Maique, Rita, Maisa e Bernardo solicitaram descansar durante algum tempo, já que estavam bastante exaustos. Rita já foi logo ocupando o quarto ao lado do cadáver, encostando a porta e dormindo pesadamente no local – ainda que os demais tenham pedido para ninguém dormir, já que não queriam esperar até o raiar do dia para continuar procurando por ajuda. Maisa e Bernardo descansavam no sofá da sala, a primeira deitada sobre a coxa do namorado. Jorge e Rebeca dividiam uma poltrona de dois lugares e estavam apertados no local. Ambos e Maique estavam com os celulares ligados com lanterna próximos, iluminando o local.
- Então... está com sono? – perguntou Jorge
- Até que não. Tenho costume de dormir pouco. – disse Rebeca – E você?
Jorge esticou o corpo.
- Com preguiça.
Rebeca ri.
- Você é engraçado. – disse – E você me disse que estava indo pra capital fazer uma audiência?
- Na realidade, estava voltando de uma audiência em São Carlos. Eu moro na capital, na realidade, então estava voltando pra casa.
- Ah, sim. Isso mesmo. – Você tinha comentado mesmo no ônibus. – disse a garota – E você mora com seus pais lá?
- Só minha mãe na realidade.
- Sem irmãos?
- Isso.
- Nossa, se sua mãe souber, então, que você está no meio do mato perdido, tentando achar o rumo de casa...
- Ela infarta. – ele completou. E ambos riram.
- E você, mora com seus pais na capital?
- Sim, sim. Ainda não consegui largar deles.
Jorge ri.
- Você faz o que por lá?
- Tenho uma loja de roupas na Santo Ângelo.
- Santo Ângelo? – perguntou Jorge, surpreso – Olha. Eu moro em Santa Clara. Praticamente do lado.
- Verdade. Qualquer dia, me visita lá.
- Pode deixar.
Rebeca, em seguida, apoia a cabeça sobre o ombro de Jorge.
- Achei que estava sem sono. – brincou
Rebeca ri, sem nada responder. Em seguida, respira fundo e diz:
- Seu cheiro é bom. – e cheira o pescoço de Jorge, fazendo subir uma boa emoção espinha acima. Em seguida, ela dá uma leve mordida no local, fazendo novamente subir uma boa emoção espinha acima e obrigando Jorge a rapidamente cruzar as pernas para não passar vergonha. Ela cochicha no ouvido do rapaz: - Você sabia que fico doida de homens bonitos de terno? – Jorge se enrubesce em seguida, ficando da cor de um tomate
Enquanto isso, Maique diz para Maisa que irá ao banheiro e levanta do sofá, trocando o colo por uma almofada. Utiliza o banheiro e, na volta, visualiza um jornal, novo, sobre a mesa. Joga o feixe de luz do celular sobre o local, iluminando o suficiente para ler a manchete principal, que era:
"NICK 'VIRAGO' VOLTA A AMEDRONTAR POPULAÇÃO"
- Nick Virago?! – se perguntou Maique, para si mesmo. Tentou se lembrar de algo: "Esse nome não é estranho", pensou. Retirou o jornal de cima da mesa e passou a ler a reportagem, que dizia:
"Nick 'Virago' volta a amedrontar população de pequena cidade do interior do Estado. Desde o começo da semana, 7 pessoas já desapareceram em circunstâncias misteriosas em Virago e região." – "eu lembro quando falaram desses desaparecimentos", pensou Maique – "A Polícia Militar da região acredita ser um novo ataque sistemático de Nick 'Virago', um maníaco obcecado por sangue que amedrontou a população da cidade no final da década de 80 e começo da década de 90, quando finalmente foi preso em uma pequena cabana perto do Rio Albuiú. Atualmente, Nick 'Virago' foi transferido para o regime semiaberto após cumprir 23 anos dos 62 anos e 6 meses de prisão que recebeu em seu julgamento em 1997, já estando preso desde que foi capturado em 1993.
[...]"
- Cabana... perto do Rio Albuiú?! – se perguntou, Maique. O restante da reportagem, Maique apenas leu, sem ter dado nenhuma atenção. Sua cabeça ainda estava digerindo essa frase. Repentinamente, lembra-se de algo e ergue a sobrancelha. Lembrou-se de Jorge falando que o grupo se encontrava às margens do Rio Albuíu. – Meu Deus.
Repentinamente, eis que um grito ecoa por todos os cantos, fazendo o grupo se levantar em um só pulo.
- Ai, meu Deus. Rita. – gritou Jorge. Este e os demais saíram correndo tropeçando. Atravessaram a cabana a toda velocidade e Jorge abriu a porta a toda velocidade. Neste instante, ainda com a mão sobre a maçaneta, estagnou. Os demais chegaram atrás dele e igualmente estagnaram.
Rita se encontrava inerte sobre a cama, com as pernas e braços paradas próximos ao corpo. Sua cabeça estava afundada sobre a cama, se transformando em um pequeno pedaço de massa encefálica. O tampo superior estava destruído e de lá vazava grandes quantidades de sangue e massa encefálica, que inundavam a colcha. Ao lado de Rita, em pé, havia um homem robusto, de seus 1,80 metros de altura, com uma roupa preta de palhaço, um malicioso sorriso desenhado no rosto pintado, uma peruca colorida no cabelo e uma marreta enorme suja de sangue em mãos.
- Olá, amiguinhos. – disse o palhaço, rindo
- Puta que pariu. Correm. – gritou Bernardo, virando-se de costas e empurrando todo mundo que estava pela frente. Os demais saem correndo, em completo desespero. Jorge ainda ficou paralisado durante alguns segundos, mas, ao perceber o assassino vindo em sua direção, fecha a porta correndo e se distancia do local. Atravessa o local logo atrás de todo mundo, pula algo que estava caído no chão e sai correndo. Ao passar pela sala, ainda escuta alguém pedindo socorro, mas não importa. Encontra-se com o restante fugindo da residência e junta-se a eles.
Ele não havia percebido, mas havia saltado sobre Maisa, que havia sido derrubada sem querer por Bernardo e abandonado pelos demais, que, devido à escuridão, não conseguiram enxergar sua ausência. Maisa ainda tentava se levantar no chão da cabana, quando o assassino ainda o encontrou. Este a levantou por trás, segurando-a pela roupa e pelo cabelo.
- Ai, meu Deus. Socorro. Me solta. Me solta. – gritou a garota, enquanto se debatia. O assassino saiu do local com ela em mãos e adentrou no corredor, atravessando-o e adentrando a uma cozinha aparentemente vazia. Havia apenas uma pequena pia, um fogão, uma geladeira e alguns ganchos dependurados na parede. Lá tinha dois corpos já em estado avançado de decomposição, dependurados pelo queixo.
- Não, não, não. – começou a debater com mais veemência Maisa. Mas não teve jeito. O assassino a colocou no gancho, que enfiou no queixo e saiu no interior da boca. A garota ainda tentou se soltar enquanto a sua vida ia se esvaindo pouco a pouco de seu corpo.
Maique, Jorge, Rebeca e Bernardo já se encontravam distantes o suficiente da cabana, floresta adentro.
- Ai, meu Deus. Minha bolsa. Eu deixei minha bolsa dentro da cabana. – disse Rebeca, assustada
- Pelo menos estamos com nossos celulares. – disse Jorge, ofegante – Eu também acabei esquecendo da minha mochila.
- O que aconteceu lá? Quem era aquele maluco? – perguntou Bernardo
- Coitada da Rita. – disse Rebeca
- Eu vi um jornal escrito "Nick 'Virago' volta a amedrontar a população". – disse Maique – Na cabana. – continuou – De um serial-killer que está sendo acusado de ser responsável por uns desaparecimentos em Virago.
- Ai, meu Deus. – disse Rebeca. – Quer dizer que tem um serial-killer na região? – começou a chorar
- Gente, cadê a Maisa? – perguntou Maique, preocupado. Os demais percebem a fala do rapaz e olham na região. Realmente Maisa não se encontrava próxima. – Ai, meu Deus. Maisa! – começou a gritar
Jorge o interrompeu.
- Fala baixo, que o serial-killer pode estar por perto. A Maisa com certeza fugiu. Eu não vi ninguém dentro da cabana e fui o último a sair. E ela está sozinha. Então gritar pode alertar o serial-killer que ela está sozinha ou que nós estamos aqui. Vamos. Precisamos continuar nossa caminhada pra encontrarmos com a Maisa na cidade mais próxima.
O grupo começou a correr para o interior da floresta. A corrida atravessava a fixação da lanterna do celular – única fonte de luz -, o que acabava por fazer, vez ou outra, fazer com que o grupo não enxergava o caminho, se atrapalhasse com arbustos e galhos no chão, não visualizassem um galho no alto, dentre outros. Além disso, eles começaram a perceber um barulho de mato logo atrás deles, o que indicava algum outro ser próximo do local. Contudo, eles escutam uma risada ecoando por todo o local.
- Cadê vocês? – perguntou o dono da risada, com voz idêntica a do serial-killer.
- Vamos. Por aqui. – disse Jorge, abaixando-se para passar debaixo de um galho, com a entrada praticamente tampada pelo mato. Segurou a mão de Rebeca e a levou consigo. Bernardo percebeu a ação do casal e logo adentrou pelo mesmo local. Maique estava olhando para trás, a fim de encontrar a posição do palhaço e acabou não vendo onde o casal e Bernardo adentraram e acabou passando adiante.
Deu alguns passos e percebeu não se encontrar mais próximo do trio. Olhou ao seu redor e começou a entrar em desespero:
- Jorge. Rebeca. Bernardo. Cadê vocês?
Enquanto isso, Jorge, Rebeca e Bernardo se distanciavam do local onde outrora se encontravam ainda abaixados, haja vista a significativa quantidade de galhos à sua cabeça. Andaram assim alguns segundos, até o instante em que puderam levantar. Neste instante, perceberam que Maique não se encontravam com eles.
- Maique. Maique. – chamava Jorge, tentando não chamar a atenção de pessoas indesejadas.
Maique continuava caminhando pelo interior da floresta, enquanto procuravam pelos demais. De repente, sem que percebesse, alguém apareceu às suas costas. Escutou um barulho de algo sendo pisoteado a alguns centímetros atrás de si e virou-se de costas, completamente amedrontado. Percebeu ser Nick 'Virago' e sobressaltou-se.
- Achei ummmm! – disse o palhaço assassino, em tom de deboche. O rapaz tenta se distanciar, porém o serial-killer foi mais rápido. Em poucos segundos, segurou Maique pela gola e o jogou no chão. O rapaz bateu com os joelhos no solo e sentiu uma pungente dor no local. Ele grita, tamanha a dor. Após, grita por clemência; porém, não obteve êxito. Nick 'Virago' rapidamente levanta um facão e o abaixa em direção ao pescoço de Maique, arrancando a cabeça do rapaz e fazendo espirrar sangue, antes de cabeça e corpo do rapaz caírem no solo, sem vida.
Jorge, Rebeca e Bernardo caminhavam pelo local à procura de Maique quando escutam seu grito de clemência, segundo antes de um estrondo de algo bem pesado cair no solo.
- Vamos, vamos, vamos. – disse Jorge
- Puta que pariu. Ele pegou o Maique. – disse Bernardo, irritado
Enquanto isso, Nick 'Virago' estava defronte ao corpo de Maique limpando o facão na própria roupa, quando ouviu os gritos e passos apressados do trio remanescente. Olhou em direção aos barulhos e sorriu.
- Achei vocêêêês!
Alguns minutos depois, o grupo vislumbra a rodovia passando ao longe, onde também havia uma ponte que atravessava o rio Albuiú e algumas residências na beirada da rodovia. Naquele local, a floresta era menos densa e havia um descampado entre o local onde se encontravam e a rodovia.
- Vamos. Precisamos nos esconder. – disse Jorge, para os demais. Continuaram correndo a toda velocidade até chegarem perto das residências. Quando já se encontravam próximos, escutam Nick 'Virago' saindo do interior da floresta com sua roupa parcialmente suja de sangue e cantarolando, feliz:
- Estoou vendo vocêêêêês!
- Correm, correm! – gritou Jorge, acelerando os passos. Rebeca e Bernardo os copiaram. Esconderam-se atrás da residência mais próxima e saíram em disparada casa a casa esmurrando as portas e chamando por socorro.
As portas estavam trancadas, o que obrigava o trio a esmurrarem a porta e a gritarem por socorro. Sabiam que isso poderia atrair a atenção do serial-killer, mas sabiam ao mesmo tempo que o mesmo estava ao seu encalço e já o tinham visto.
- Merda. Merda. Merda. – dizia Bernardo, desesperado, batendo na porta e nas janelas de uma residência. – Ninguém atende.
- OI! – gritou Jorge, entre uma residência e outra, afastado de Bernardo. – Ajudem-nos. – disse. Rebeca estava andando logo atrás de Jorge, esmurrando as janelas e porta das residências.
- Que merda. Que merda. – disse Bernardo, já bastante afastado de Jorge e Rebeca, em outra das residências. – Cadê essas pessoas?
Jorge parou frontalmente a uma pequena residência qualquer e começou a jogar o próprio corpo contra a porta, tentando abri-la; entretanto, não conseguiu êxito. Sentiu uma dor pungente subindo pelo ombro esquerdo.
- Nos filmes era mais fácil.
- Deixa eu te ajudar. – disse Rebeca. Postou o corpo para trás, esticou a perna, esperou alguns segundos e desferiu um violento chute na maçaneta da porta. Não abriu por completo, mas pôde ouvir o trinco cair do outro lado. – Sua vez.
- Obrigado. – disse Jorge. Avançou sobre a porta e, com o ombro, a abriu, caindo no interior da residência.
- Está tudo bem? – perguntou Rebeca, auxiliando Jorge a se levantar.
- Sim, sim. Ve... – dizia Jorge, já de pé, sendo interrompido por um estrondo.
- Cadê essas pessoas? – se perguntou, em desespero, enquanto tentava abrir a porta de uma das residências.
- Buuu! – disse alguém, com voz conhecida, no cangote de Bernardo. Este se arrepiou ao invés aquela voz a apenas alguns centímetros de seu ouvido. Seu corpo instantaneamente estremeceu e travou. Tentando vencer o medo que controlava o seu medo, tentou virar para trás; todavia, Nick 'Virago' foi mais rápido e lhe desferiu um violento soco em sua nuca, jogando-o com toda força de costas na parede ao lado da porta. Com a batida, machucou violentamente o nariz, sangrando.
O serial-killer segurou a gola traseira da camisa de Bernardo, prensando-o contra a parede. Este olhou para trás e gritou por Jorge e Rebeca, mas estes estavam ocupados abrindo uma porta do outro lado, e não escutaram seus chamados por causa dos barulhos que emanavam.
- M.... Merd... – disse o rapaz.
Nick desfere um potente soco na nuca de Bernardo, fazendo a cabeça do rapaz ser prensada contra a parede. Sentiu uma potente dor vertendo da nuca e começou a perder o equilíbrio. O serial-killer desfere mais dois potentes socos, causando um imenso estrondo, que ecoa pelo local. Bernardo começa a perder a consciência e começa a cair em direção ao chão.
- Opa... cai não. – disse o psicopata. Ergueu o rapaz, impossibilitando-o de cair no solo. Com a outra mão, sacou o mesmo facão que matou Maique da cintura e fincou na nuca de Bernardo, saindo do outro lado. O rapaz solta uns balbucios e depois perde a consciência. Nick retira o facão e o guarda.
- Sim, sim. Ve... – dizia Jorge, já de pé, sendo interrompido por um estrondo.
Neste instante, ele e Rebeca visualizam Nick 'Virago' segurando Bernardo contra a parede de uma residência distante da deles.
- Puta merda. O maníaco pegou o Bernardo. – disse Jorge.
- E o que faremos agora? – perguntou Rebeca, amedrontada
- Vamos. Vamos nos esconder. – disse o rapaz. Puxou Rebeca para o interior da residência, desembocando em uma pequena sala mobiliada.
- E a porta? – perguntou Rebeca, sendo puxada por Jorge para o interior da casa.
Jorge largou Rebeca e, com a ajuda desta, colocou a porta no local, pouco deslocada por causa da ausência do trinco. Em seguida, ambos correram para o interior da residência. Sabiam que, mais cedo ou mais tarde, Nick os procuraria dentro da casa. Era necessário um plano.
O rapaz rapidamente ligou a lanterna de seu celular – e evitou que Rebeca fizesse o mesmo, para ter a menor quantidade de luz no interior do local – e conheceu o local. A residência era parecida com a cabana de Nick – dois quartos, sala, cozinha e banheiro.
- Cadê todo mundo?
- Provavelmente devem ter sido vítimas do Nick. Aqui é muito perto da cabana dele. – explicou, enquanto adentrou em direção a um dos quartos, sendo seguida por Rebeca.
- Onde esconderemos? – perguntou Rebeca, o mais baixo possível
Jorge deu de ombros. Olhou ao redor e correu em direção à janela. Abriu-a, para surpresa de Rebeca. Em seguida, voltou, em direção à cama.
- Venha. – ele disse
- Por que a janela aberta?
- Ele vai imaginar que fugimos por ela. Isso o despistará. Só precisamos esconder até lá. – explicou o rapaz, ao lado da cama. Em seguida, levantou o colchão da cama e deitou sobre o estrado. Rebeca o copiou. Em seguida, o rapaz desligou a luz do celular, inundando a todos em escuridão parcial – não total, por causa da janela aberta.
- Tem certeza que isso dará certo?
- Essa cama é especial. Tem um grande espaço entre o estrado e o colchão. Se não nos mexermos, o colchão não se levanta e se não colocarmos muito peso, o estrado não quebra.
- Você fala como se isso fosse fácil. – disse Rebeca, tentando se erguer parada no local.
- Se precisar, eu te ajudo. – disse Jorge, sereno, segurando a mão de Rebeca. Ela olhou para o rapaz e o encarou a poucos centímetros de distância de seu rosto. Em seguida, sem nada falar, deu um beijo nos lábios do rapaz. Este se pegou até fechando o olho e apreciando o momento... até que a porta da frente da residência cai em um só baque no chão e o ambiente é invadido pela voz medonha de Nick 'Virago'.
- Cadêêêê vocês?! – perguntou o palhaço, em tom assustador
Jorge e Rebeca estremeceram no mesmo instante e congelaram. Nick estava lá! O casal escutou os passos do serial-killer na madeira invadirem o silêncio absoluto. Nick andava calmamente pelo local e vasculhou por toda a casa.
- Eu sei que vocês entraram aqui. Não precisam se esconder.
O silêncio continuou reinando no ambiente. Somente os passos do serial-killer pela residência eram escutados. Um passo atrás do outro... Nick abre uma porta entreaberta, do quarto vizinho. Adentrou no local e foi caminhando pelo quarto. Repentinamente, Rebeca e Jorge escutam o barulho de uma porta sendo aberta.
- Ele está vasculhando! – disse Rebeca, desesperada.
- Shhhh! – disse Jorge, em igual desespero. – Fala baixo. – disse, quase murmurando.
- Barulho. – disse Nick – De onde veio esse barulho? – perguntou, para si mesmo. Caminhou em direção à saída do quarto e voltou para a sala. Virou em direção ao outro quarto e abriu a porta. Neste momento, Jorge e Rebeca congelaram por completo. Não podiam fazer um mínimo barulho qualquer, pois o serial-killer estava a apenas alguns centímetros de distância!
- Ora, uma janela aberta. Será que eles fugiram? – se perguntou novamente. – Barulho... – voltou a dizer – Barulho, cadê você?
O serial-killer adentra no interior do quarto, caminhando pé ante pé, vagarosamente.
- Deixa eu mostrar meu novo brinquedo. – disse o palhaço. Nick passa ao lado da cama. Jorge e Rebeca congelam por completo e engolem em seco. A testa do rapaz era suor puro e descia rosto abaixo. Desde o começo da caçada, sentia muito calor, por causa das vestimentas – ainda estava de social - e da correria. Agora, por causa da situação e da tensão, era natural estar sentindo mais calor que antes.
O serial-killer caminha pelo interior do quarto.
- Querem brincar de pique-esconde? Pois bem. Está comigo. Se eu achá-los, tenho o direito de brincar com vocês. – disse, em tom de felicidade, caminhando até o guardarroupa. – Será que estão aqui? – perguntou. Abriu a porta. Havia algumas roupas, mas nada de mais. Fechou. Voltou a caminhar pelo quarto.
Nick caminhou em direção a um pequeno baú próximo da janela. Os corações de Jorge e Rebeca continuavam apertando no interior em seus peitos. Todavia, qualquer respiração fora do compasso poderia chamar a atenção de Nick e ambos deveriam segurar firme a respiração, continuando os corações apertando fortes em seus peitos.
- Cadê vocês? – perguntou o psicopata, abrindo o baú. Decepcionando-se por não ter ninguém por lá, fechou com força. – Cadê vocês? – se perguntou, já visivelmente irritado. Voltou a caminhar pelo local.
Jorge respirou firme quando o palhaço parou ao lado da cama. "Vaza, vaza, vaza, vaza, vaza, vaza...", pensou, continuadamente, rezando para todos os santos. Mas não teve jeito. O palhaço levantou com uma só mão o colchão.
- Achei.
O rapaz e Rebeca tentaram soltar algum balbucio ou resposta, mas o serial-killer foi mais rápido.
- Dizem alô ao meu novo brinquedo. – disse, antes de desferir um poderoso golpe de porrete nas cabeças de Jorge e Rebeca.
O grito de Jorge ecoou aos quatro ventos e acabou por fazer todos no interior do ônibus acordar, sobressaltados. O rapaz suava frio e sua blusa social estava encharcada. O cobrador ligou a luz do corredor, abriu a porta e perguntou:
- Está tudo bem, meu jovem?
Jorge, ainda ofegante e sob olhares reprovadores ou preocupados dos demais passageiros, meneou positivamente com a cabeça.
- Está tudo bem, Jorge?
- Foi só um pesadelo. Eu sonhei que o ônibus... – a frase de Jorge foi interrompida por uma freada brusca do veículo e um grito de xingamento do motorista, que ainda tentou controlar o ônibus, mas este rapidamente saiu da pista e começou a capotar, enquanto descia o barranco.