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30/07/2017

O Condenado Do Condendo (Conto De Terror romântico)

O Condenado do Condendo 


Don Álvaro Guzmán era conhecido em Potosí pela sua crueldade, como o tinham sido antes dele o seu pai e o seu avô. Não que a crueldade fosse uma qualidade rara nos senhores da terra. Mas a crueldade dos Guzmán era, ainda assim, de natureza e dimensões que a faziam sobressair entre a costumeira desumanidade dos fidalgos da região, espanhóis ou criollos de nascimento. A Don Álvaro, por exemplo, viram-no uma vez decepar de um golpe de espada a mão de um criado que ele acusava, sem provas, de lhe ter roubado uma moeda de prata; viram-no, de outra vez, mandar açoitar, até ele desfalecer de dor e perda de sangue, um outro criado que demorou dois minutos a trazer-lhe o jarro de vinho que ele lhe tinha pedido; e viram-no fazer violar pelos seus dois enormes mastins a jovem mucama que ousou defender-se com bofetadas e arranhões quando ele quis abusar dela.
Dona Ignacia, a mulher de Don Álvaro Guzmán, era um anjo, na desajeitada bondade com que tentava compensar as vítimas da malvadez do seu marido, às escondidas dele; e seria também um anjo na aparência, se os maus-tratos de Don Álvaro lhe não tivessem roubado prematuramente a beleza delicada que tivera.
Don Álvaro Guzmán era possante como um touro e nunca ninguém lhe tinha conhecido doença, gripe ou mal de altura que fosse, de modo que, quando ele morreu de repente, foi grande a surpresa – e o alívio. Dona Ignacia não verteu uma única lágrima à morte do marido e nem familiares nem amigos, que lhe conheciam a triste condição, lho levaram a mal. Há quem diga que a viu assistir, da varanda do seu quarto, no escuro e em silêncio, à cena a que se resume este conto e que se deu oito ou nove horas depois do funeral de Don Álvaro; outros sustentam que, pela primeira vez em muitos anos, dormia um sono tão calmo e profundo que o tumulto de que se encheu a fazenda nessa noite não a conseguiu acordar.
O caixão de Don Álvaro tinha sido colocado no jazigo familiar, ao lado da capela da hacienda. Sempre ali tinham sido sepultados os Guzmán, para contento de todos: eles não queriam, por uma soberba que, a par da malvadez, lhes corria na linhagem, partilhar com mais ninguém a sua última morada; e aos restantes potosinos agradava-lhes não terem a conspurcar a terra sagrada do cemitério a carne abominável daquela família de demónios. Devia ser por volta da meia-noite. José, um dos capatazes da fazenda, que voltava a casa depois de ter despejado com uns amigos duas garrafas de singani num botequim das redondezas, ouviu barulhos estranhos vindos de dentro do mausoléu. Primeiro, maldisse a aguardente por lhe pregar partidas daquelas, e logo a ele a quem nunca tinham assustado nem demónios nem fantasmagorias de tipo nenhum. Mas, depois, decidiu confirmar se era mesmo de uma fantasia de bêbedo que se tratava. Aproximou-se da porta do sepulcro. Não havia dúvida, o barulho era real. Ouviu claramente a madeira a ser golpeada e urros abafados, que não duvidou que fossem humanos e que tanto podiam ser de raiva como de desespero.
José correu a acordar os outros trabalhadores da propriedade, um por um. Passava-se algo pouco católico, explicava-lhes ele, no jazigo dos Guzmán. Os peões começaram a sair das suas cabanas, alguns acompanhados das mulheres. Vinham quase todos armados de facas ou varapaus. Alguns traziam tochas na mão, mas depressa se deram conta de que era escusada qualquer iluminação artificial, porque a noite de lua cheia estava tão clara que se podia ler a letra miúda de um missal à luz apenas do luar. À porta do túmulo, os homens e as mulheres confirmaram, ansiosos, a verdade do relato de José. Ouviram o ruído de madeira a estilhaçar-se, seguido de um grito aflitivo de dor. A explicação do assombroso acontecimento começou a circular entre eles primeiro em sussurros amedrontados que se repetiam a espaços e depois num murmúrio constante, de que sobressaíram, a certa altura, as exclamações vigorosos de uma mulher: “Um condenado! Um condenado!”
Todos sabiam o que queriam dizer as palavras de Doña Hortencia: Don Álvaro Guzmán, o malvado, o pecador impenitente, não tinha sido autorizado a gozar do descanso eterno e nem sequer da correcção das suas faltas pelos tormentos do Inferno. Como outros criminosos sanguinários antes dele, tinha sido sentenciado a voltar à Terra e a vaguear para sempre na condição etérea que constituiria, para ele, o mais terrível castigo – era um condenado, uma alma deambulando em pena no mundo impuro da matéria. 
A porta do mausoléu abriu-se e todos se contraíram num espasmo de pavor. Não se ouviu nem um ai. Quando a fantástica figura do condenado surgiu no limiar do sepulcro, porém, nem os mais valentes deixaram de recuar alguns passos atabalhoados entre exclamações de terror. A aparição excedia o que de medonho pudesse conceber a mais doentia imaginação. Se era de Don Álvaro o fantasma, não tinha muitas parecenças com o Don Álvaro que tinham conhecido em vida: a aventesma tinha a cabeça e a cara feitas numa chaga pegada, bocados de cabelo arrancados, as roupas em farrapos e completamente ensanguentadas; e as mãos, que trazia levantadas em frente ao rosto num gesto de ameaça, viam-se-lhe descarnadas em toda a extensão das falanges, pingando grossas bagas de sangue.
“Não é uma alma penada”, gritou alguém, “é um demónio da corte de Satanás!”
“Demónio ou fantasma, que importa?”, respondeu Doña Hortencia com firmeza, “Ides venerá-lo? Ou fugir dele? Dai-lhe antes a provar golpes de pau e cutelo, a ver o que diz o estafermo do outro mundo à digna recepção que o espera neste!”
O grupo de peones deixou convencer-se pela fúria decidida da mulher. Ao princípio, com alguma hesitação e depois cada vez mais afoitos, avançaram para o condenado e cercaram-no. Quando as primeiras pancadas o atingiram, o fantasma contorceu-se sem gritar. Quando alguém mais atrevido se aproximou dele o suficiente para lhe abrir o braço com uma facada, o monstro soltou um gemido arrastado e gutural que não era humano com certeza, titubeou e caiu ao chão, para se levantar outra vez logo de seguida.
Ouviu-se de repente um grito de José, a quem a cena de horror tinha desembriagado de todo:
“Deixai o homem, por amor de Deus! Será que sois tão cegos que não vedes que é Don Álvaro a miserável criatura?”
“Don Álvaro? Que Don Álvaro, este maldito avejão!?”, gritou-lhe Doña Hortencia, num esgar de raiva. “Este ser não é deste mundo e nem de mundo nenhum, que o Diabo não o quis receber na sua maldita morada e mandou-o de volta à Terra para nos continuar a atormentar!”
José entendeu então finalmente o que todos os outros tinham já há muito entendido: que a descrição que Hortência acabava de fazer se podia aplicar tanto a uma alma penada com a uma criatura de carne e osso, bem viva ainda mas que em breve deixaria de o ser. Só não compreendia por que demoníaco prodígio o tirano tinha conseguido adiar o julgamento divino. Mas nem isso o tinha conseguido salvar de ser condenado pelos seus juízes humanos.

29/07/2017

Lendas De Terror Baseadas Em Fatos Reais O Carazi

A Lenda Do Carazi 


Caso esteja lendo a noite e deseja dormir tranquilamente, feche essa página e vá fazer outra coisa,mas volte a manhã se estiver curioso.
obs: quando li essa história pela primeira vez não consegui dormir a noite. 

O Carazi tem a aparecia de um menino de seis anos, ele não tem boca, os olhos dele são totalmente negros e brilhosos e dizem que ao invés de dedos ele possui garras. O Carazi entra na casa das pessoas á noite, e se esconde nos armários, debaixo de mesas, atrás do sofá, ele só não entra nos quartos. Quando ele entra na casa das pessoas ele fica quieto observando, e quando alguém sai do quarto á noite para ir beber água, por exemplo, ele observa a pessoa e entende isso como um convite para entrar no quarto dela. Depois disso, a pessoa tem pesadelos, não conseguem dormir direito, começam a escutar barulhos estranhos, tem a sensação de que tem alguém ás observando e algumas dizem que vira ele.


Quando li sobre ele, pensei que fosse uma bobagem, só mais uma historinha de terror. Depois de uns dois, eu estava dormindo tranquilamente, nem mesmo me lembrava dessa historia, só que teve um dia que eu acordei á noite com muita sede, me levantei normalmente e fui até a cozinha, passando por um corredor escuro, voltei para meu quarto, só que nessa noite eu tive um pesadelo. Acordei no outro dia, eu nem levei á serio, era só um pesadelo idiota, não é?

Mas não foi só um pesadelo, foram vários, durante uma semana inteira. Os pesadelos que eu tinha eram tão horríveis que eu comecei a ficar com medo de dormir, e com isso comecei a perder o sono, demorava horas para dormir. Depois de algumas semanas, eu escutei uns barulhos estranhos no meu quarto, e quando estava muito silencioso, eu chegava a escutar alguém respirar, mas não tinha ninguém no meu quarto, não alguém visível.

Isso só piorou, eu fiquei paranóica, comecei a sentir que tinha alguém que me observava dormir, minha mãe achou que eu estava louca. Eu já estava desesperada, revirei meu quarto inteiro e não achei nada, resolvi pesquisar algumas na internet que pudessem explicar o que estava havendo comigo, e então me lembrei daquela historia idiota do Carazi, mas depois que li de novo, não me parecia tão idiota assim, parecia muito real, e aquilo estava acontecendo comigo, que sempre ridicularizei essas historias.


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Quando admiti para mim mesma, que quem estava me assustando de noite era o Carazi, ficou mais fácil lidar com isso, procurei na internet um método para expulsá-lo de meu quarto, mas não tinha nada. Á única coisa a fazer era ignorá-lo, e foi o que eu fiz, e faço até hoje. Quem sabe um dia ele não vai embora, quem sabe um dia ele não para de me fazer perder o sono e ficar enrolada na coberta acordada escutando barulhos estranhos e esperando ansiosamente o dia amanhecer.



23/07/2017

Relatos de terror baseados em fatos reais

Relatos de uma pessoa anônima

O Dia do Sacríficio





Antes, que eu levasse um tiro 3 dias atrás eu estava no meu altar de rituais, e uma voz meio estranha falou aos meus ouvidos que eu irir experimentar o início de uma morte ,e que eu tinha que escolher o meu ganho (uma forma de recompensa) e me propós o seguinte morrer por alguém ou viver para alguém morrer no meu lugar. Pensei muito depois que sai do altar, percebi que era um tipo de teste só não sabia como isso iria acontecer. No sábado no dia do tiro eu salvei uma mulher, e passei por um caso que me deixou muito entrigado, o tiro foi na perna esquerda, onde passa as veias que são ligadas ao coração, além de ser uma região femural, se a bala tivesse atingido o osso quebraria, e nem sei o que podia acontecer, mais por incrível que pareça a bala passou entre as veias e o osso sem atingir nada, de início estranhei até mesmo o médico que me examinou achou muito estranho e me falou mesmo assim (Realmente não chegou a sua hora jovem, te mandaram de volta.) Lógicamente tinha entendido o que o espírito tinha me contado 3 dias atrás, e vi que realmente se tratava de um teste, o outro lado queria ver se realmente eu era capaz de me sacrificar por alguém.

12/07/2017

Um Monstro No Quarto Contos De Terror

Contos De Terror Um Demônio no Quarto




Aquela noite de 31 de outubro estava demasiamente grande, sendo que parte da culpa era das torrenciais chuvas de mais cedo, que acabaram por elevar os níveis dos rios da região. Bernardo se encontrava já deitado em sua cama, na pequena casa que residia com seu pai, Lauro, desde o falecimento de sua mãe. Era pouco mais de nove horas e ambos já se estavam dormindo, já que iriam acordar cedo para viajarem de madrugada, para aproveitarem o máximo possível o feriado prolongado.
Bernardo tinha pouco mais de sete anos e era um garoto bastante agitado. Tinha severas dificuldades de dormir e não eram poucas as vezes que assustavam seus pais madrugada afora com suas andanças sonâmbulas pela casa. Da mesma forma, era facilmente acordado, por qualquer barulho. E, como o interruptor do quarto era próximo da casa – estratégia do pai ao edificar a casa, pois sabia da dificuldade de dormir do filho, o que lhe impediria de levantar toda hora para acender a luz -, não eram raras as ocasiões que a luz do quarto ficava apagando e acendendo durante a madrugada.
Naquela noite, Bernardo se encontrava irrequieto, girando de um lado para o outro na cama. Sentia-se uma carne fritando na frigideira quente, devido ao calor da noite. Girava e girava, de um lado para o outro da cama, em intervalos regulares. Repentinamente, completamente tomado pela irritabilidade, levantou-se, em um só pulo, sentando-se ofegante na cama. Apertou o interruptor e ligou a luz. E, naquele instante, viu aquilo que mudaria sua noite... e sua vida.
Havia um rapaz de pele negra, careca, sem camisa e portando cachimbo na boca e gorro vermelho na cabeça com a cabeça apoiada sobre os braços cruzados no sopé da cama, olhando fixamente para Bernardo. Ao perceber que o garoto lhe viu, o rapaz ri e entra debaixo da cama.
Bernardo ficou completamente imóvel desde o instante em que fitou o rapaz. Assim que este foi embora, reuniu coragem suficiente para agir, embora seus músculos quisessem ficar parados. Gritou, o mais alto que pôde, um escandaloso "Paaaai!", que ecoou pelos quatro cantos da casa. Seu pai chegou em um pulo, esbaforidos, com o corpo todo tremido devido ao susto.
- O que foi, Bernardo? O que aconteceu? – perguntou o pai
- Tem um monstro debaixo da cama. Tem um monstro debaixo da cama. Eu vi. Eu vi. – gritou o filho, com muito medo. Levantou-se da cama e correu para os braços do pai, que lhe abraçou.
- Não tem monstro nenhum no seu quarto, Bernardo. – disse o pai, tentando se recuperar do susto. Olhou rapidamente o quarto, à procura de algo diferente.
- Eu vi. Eu tenho certeza. Estava parado na cama me olhando, quando eu liguei a luz. Depois, ele entrou para debaixo da cama. – disse o garoto, enquanto lacrimava generosamente.
O pai para ao lado da cama, ajoelha-se e abaixa o corpo, a fim de olhar o que estava debaixo do móvel. Não havia nada. Levantou-se.
- Não tem nada aqui. O que quer que seja o que você viu, foi embora. – disse o pai. Olhou novamente o quarto. Foi em direção ao guardarroupa, que ocupava a outra parede do cômodo. – E como era esse "monstro"?
- E...Ele era negro e usava um gorro vermelho na cabeça.
Aquilo chamou a atenção do pai.
- Você andou lendo a respeito do Saci antes de ir dormir, não foi? – perguntou, virando-se para o filho
- Não, pai.
- Mas você viu o alvoroço que está a internet sobre a suposta aparição do Saci aqui na cidade, não viu?
- Vi.
- Então é isso. – disse o pai, abaixando-se ao lado do filho. Puxou-o para si, olhando-o nos olhos. – Você viu na internet e ficou impressionado. Não tem como ninguém entrar aqui em casa sem nos ver. Espera aí que vou te trazer um copo de água para você se acalmar. – disse. Bernardo meneia a cabeça. O pai levantou-se e saiu alguns segundos do quarto, retornando em seguida com um copo cheio em mãos.
- Toma. – disse – Beba.
O filho pegou o copo de água e o virou, bebendo todo o seu conteúdo em poucos segundos. Enquanto isso, o pai atravessou o quarto e foi em direção à janela aberta ao lado da cabeceira da cama.
- E deixa eu fechar essa janela porque vai acabar entrando um bicho. – disse, antes de fechar. Em seguida, retorna para seu filho.
- Saci não existe, meu filho. Essa é uma lenda que nossos avôs contavam para os filhos ficarem dentro de casa no Dia das Bruxas, para não saírem pedindo bala nas outras casas e incomodassem os vizinhos. Não tem nada de real nisso. Agora, vai dormir que iremos acordar cedo.
- Está bem, papai. – disse um Bernardo mais calmo.
O pai fica ao lado da cama enquanto Bernardo se arrumava para voltar a dormir. O garoto deitou e se enrolou na coberta.
- Seu quarto está quente. Vou ligar o ventilador para refrescar.
O ventilador, localizado no teto, pouco a pouco, começar a se ventilar.
- Cubra direito, para não se resfriar. Boa noite. – disse o pai, enquanto arrumava a coberta do filho e antes de lhe dar um beijo de boa noite na testa. Passou pela porta e, antes de sair, apertou um interruptor, que fez o ventilador, localizado no teto, começar a girar. Em seguida, disse, antes de apagar a luz e fechar a porta.
- Boa noite, campeão.
- Boa noite, pai.
Bernardo estava mais calmo – fruto da água com açúcar dada por seu pai -, além de estar com bem menos calor. Não se agitava mais na cama e estava prestes a adormecer. Todavia, quando já estava pegando no sono, escutou um pequeno e rápido bater de uma porta do guardarroupa.
No mesmo instante, abriu os olhos. Esperou alguns segundos para analisar se o som iria se repetir. Não se repetiu. Fechou novamente os olhos. Entretanto, seu coração começou a voltar a acelerar dentro do peito. Já não estava tão calmo quanto antes e começava a ficar inquieto.
Pouco a pouco, contudo, o rapaz foi voltando ao normal. Começava a quietar-se. Estava voltando à paz de antes quando, de repente, ouviu uma pequena risada dentro do quarto, próximo a seu rosto. Abriu os olhos de sobressalto e girou o corpo rapidamente para apertar o interruptor ao seu lado. Em poucos segundos, a luz do cômodo iluminou o ambiente. Entretanto, nada havia à sua frente, nem no quarto. Saltou da cama e caiu no chão, ajoelhando-se em seguida e abaixando o corpo para fitar o que havia debaixo de sua cama. Nada havia. Correu em direção ao guardarroupa e abriu porta por porta. Igualmente nada havia.
- O que será que foi isso? Será que foi o tal do Saci? – se perguntou. Queria saber mais, queria entender o que estava acontecendo, mas seu corpo era demasiadamente cansado e não conseguia forças para nada. Queria apenas deitar e dormir. Pensou que tudo aquilo era fruto de sua imaginação, devido ao medo que estava sentindo. Esqueceu tudo e foi-se deitar, na tentativa de adormecer.
Dessa vez, foi um pouco mais difícil para Bernardo adormeceu. Já começava a ficar sismado com os barulhos e acabava por não conseguir relaxar. Começou a rolar na cama como antes, virando de um lado para outro em intervalos regulares.
Vinte minutos haviam se passado e Bernardo continuava irrequieto sobre a cama. Apesar do ventilador ligado, estava suando. Repentinamente, eis que escuta barulhos de panela caindo no chão, vindos da cozinha, do outro lado do corredor. Levantou-se assustado e ligou a luz correndo, sentando na cama. Em seguida, saiu da cama e correu em direção à porta. Abriu-a e colocou a cabeça para fora do quarto.
- Bernardo! – gritou seu pai. O grito veio à direita, em uma porta à esquerda, dentre as três que ocupavam o final do corredor. – Vai dormir. Larga as panelas!
- Mas pai... não fui eu...
- Bernardo. Sossega, que amanhã a gente vai acordar cedo. Volta pra cama. Anda...
- Mas... pai...
- Bernardo. Não me fala levantar.
- Tá bom, pai...
Bernardo fechou a porta e voltou para o interior do quarto, cabisbaixo. Voltou para a cama e tentou dormir. Queria dormir. Mas não conseguia. Estava intrigado com todos aqueles barulhos. Poderiam estes serem até irreais, mas a visão do rapaz não era e Bernardo tinha certeza disso. Levantou-se, evitando fazer barulho e caminhou no completo escuro em direção à cômoda, que se encontrava ao lado da porta. Foi-se guiando pelas mãos, que balançavam à sua frente. Encontrou-se com a cômoda e esticou os braços a fim de pegar o seu celular, que estava do lado esquerdo da televisão.
Naquele instante, sentiu uma pesada mão pousando sobre a sua. Em seguida, ouviu novamente a risada, logo atrás de sua nuca, ao lado do ouvido direito. Estava tão perto que Bernardo pôde sentir a sua respiração acertando seu pescoço.
O garoto sentiu um frio subir por sobre sua espinha, que paralisou-lhe de medo e congelou-lhe o corpo. A mão pousada sobre a sua não saía de lá e começou a se fechar, apertando seus minúsculos dedos. Bernardo começou a sentir dor, onde começou a se mexer na tentativa de se desvencilhar do agressor. Não conseguiu êxito e o aperto e a dor só foram piorando.
Desesperado, Bernardo joga o corpo para trás com toda força, acertando em algo, que cai no chão e solta sua mão. Correu em direção ao interruptor e acendeu a luz. Desesperou-se. O rapaz estava parado à sua frente.
Naquele instante, Bernardo visualizou por completo o rapaz. Estava com o gorro vermelho na cabeça e sem camisa. Usava apenas uma bermuda avermelhada, um cachimbo na boca e não tinha a perna direita. Bernardo sobressaltou-se a tal ponto que arregalou os olhos.
O monstro, ao fitar Bernardo, riu. O garoto, sem perder tempo, saiu correndo para fora do quarto. "Papai, papai, papai", gritava, enquanto corria. Correu tropeçando pela casa, desembocando primeiramente em um corredor. Virou-se para a direita e continuou sua corrida, sem olhar para trás. Neste instante, sentiu um forte vento vindo de detrás de si lhe passar, durante alguns segundos. Não entendeu o motivo de haver vento, haja vista que a casa inteira se encontrava fechada, mas não iria se preocupar com aquilo naquele instante.
Continuou sua corrida, virando para a esquerda, frontalmente a uma porta e a abriu. Adentrou no cômodo e apertou, o mais rápido que pôde, o interruptor, inundando o quarto com a luz.
Era um espaçoso quarto, com uma cama de casal no centro, um rack com uma televisão de 42´ à sua frente, um guardarroupa à esquerda e uma mesa com computador à direita, à frente da porta. Bernardo estarreceu-se e novamente congelou. O monstro estava à sua frente, sobre a cama, com um maléfico sorriso no rosto, ao lado de seu pai.
- O que...?! – perguntou, estupefato
O rapaz ri, sendo que seu maléfico riso ecoa por todos os cantos do quarto. Este mostra que está portando na mão direita uma faca e a ergue no ar, segurando-a com as duas mãos.
- Não! – gritou Bernardo. Este grito acabou por acordar seu pai, ainda meio sonolento.
- O que...?! – murmurou o pai.
- Sai daí, pai. – gritou Bernardo, sem tirar o foco do monstro
- O que...?! – perguntou Lauro. Olhou para a porta e fitou seu filho parado no local, olhando fixamente para algo atrás dele. Acordou por completo, perdendo a consciência. Virou o corpo para trás. Visualizou o monstro parado, em pé, atrás de si, com uma faca apontada em sua direção. – Que...?!
Entretanto, não teve tempo. O monstro desceu a faca em sua direção com toda força e velocidade, cravando-a em seu pescoço. Bernardo soltou um grito seco e paralisou-se no mesmo instante. Seu pai ainda tentou exprimir alguma reação, mas logo sua vida se esvaiu de seu corpo, devido a inúmeras facadas que tomou.
O monstro se sujou de sangue, enquanto fez uma poça sobre os lençóis. Olhou para Bernardo, retirando-o de sua paralisação. Soltou um pequeno riso diabólico e apontou a faca em direção ao garoto. Em seguida, saltou, caindo no chão no pé da cama.
Essa foi a gota d´água para Bernardo, que postou-se a correr para fora do quarto. Adentrou no interior do corredor e acelerou os passos em direção ao outro lado. Sentiu novamente um vento passar por si, mas novamente não deu importante. Chegou do outro lado do corredor o mais rápido que pôde, entrando no interior de uma cozinha, após ultrapassar várias portas laterais.
Virou-se para a esquerda, a fim de passar no espaço compreendido entre o balcão e a parede e adentrar na copa, adjacente à cozinha. Naquele instante, sobressaltou-se novamente. Fitou o monstro parado na porta de madeira do outro lado da copa, com seu inconfundível sorriso diabólico nos lábios.
De inopino, Bernardo olhou para trás. Nada viu além do corredor inundado na escuridão. Pensou em voltar e tentar sair para outro lado, mas sabia que o monstro apareceria por lá. Não sabia como, mas o monstro tinha feitiço para se teletransportar, ou algo assim.
Lembrou-se das horrendas histórias do Saci que o pai de seu avô contava, já nonagenário. Conta o sábio idoso que, em tempos antigos, um monstro de pele negra, usando somente bermuda e gorro vermelho, um cachimbo e faltando-lhe uma perna atormentava os moradores da pequena e histórica Larital e que o mesmo invadia casas no dia 31 de outubro com portas e janelas esquecidas ou deixadas abertas para roubar meninos, como ato de vingança por ter sido dedurado por um menino quando ainda era escravo e fugia das mãos de seu dono, tendo sido recapturado e apanhado até a morte.
Todavia, nunca imaginou que aquela pesada história que seu bisavô lhe contava até dois anos atrás – quando o mesmo falecera – fosse verdade. Sua mãe mesmo, quando também ainda era viva, lhe proibira de ouvir tais histórias, já que somente piorava o seu estado de insônia e a mesma também, ao que tudo indicava, não acreditava na veracidade dos contos narrados pelo idoso.
Porém, naquele instante, com seu pai falecido a golpes de faca e o monstro lhe impedindo de sair, Bernardo sabia que a história era real. E precisava agir para não ter o mesmo destino que seu pai. Lembrou-se de que se encontrava na cozinha. Saiu correndo em disparada para o interior da cozinha, contornando a mesa central o mais rápido que pôde e chegando nas gavetas da pia, no canto oposto à porta.
No exato momento em que Bernardo voltou a se mexer, o monstro lhe copiou. Saltitou rapidamente em direção à cozinha, ainda com o sorriso no rosto e a arma em punhos. O garoto abriu todas as vezes da pia o mais rápido que conseguiu até achar uma enorme faca guardada ao fundo, escondida sobre outros utensílios – uma tentativa frustrada de seu pai de lhe proteger de possíveis acidentes, mas que acabou por salvar sua vida naquele instante.
Bernardo pegou a arma e a ficou em punhos, segurando à sua frente com os dois braços. Tremia inconsumeravelmente, principalmente porque avistou o monstro ao lado do balcão. Engoliu em seco. O monstro parou e sorriu. Em seguida, jogou a faca no chão. Bernardo surpreendeu-se e estranhou a atitude do inimigo. Baixou a guarda durante alguns segundos, mas logo voltou ao normal.
O monstro sorriu novamente e retirou o capuz. Bernardo ficou na defensiva. Em seguida, enfiou a mão lá dentro e jogou um pó brilhoso no ar. O garoto estranhou e tentou se proteger. Todavia, acabou por aspirar o ar, que rapidamente lhe retirou toda a consciência, caindo em um só baque no interior da cozinha e deixando a faca cair próxima de si.
O Saci caminhou em direção ao garoto e fitou durante alguns segundos. Sorriu. Em seguida, puxou-o pelo colarinho e saiu andando pelo interior da casa, em direção à porta da copa, assobiando.